Casa de Pablo Neruda em Isla Negra no Chile

Casa de Pablo Neruda em Isla Negra no Chile. Pelo poder evocado que os objetos continham e pelo seu entorno dominado pela presença do mar, a casa de Isla Negra é uma espécie de compêndio visual e material da poética imaginária de Neruda.

O lugar foi originalmente chamado Las Gaviotas (gaivotas). O poeta rebatizou-a: “negra” pela cor das rochas, e “isla”, talvez porque ali pudesse isolar-se para escrever. De volta ao Chile vindo da Europa, em 1937, procurava um lugar para se dedicar ao seu Canto general, um grande livro sobre a história e a natureza americanas. “A costa selvagem de Isla Negra, com o tumultuoso movimento oceânico, permitiu que eu me entregasse com paixão à aventura da minha nova canção” – anotou em suas memórias.

“… Era de tarde, chegamos a cavalo àquelas solidões…” – relembrou o poeta em seu livro Uma casa na areia – “… como uma picada este cheiro de inverno marinho, uma mistura de ervas e areia salgada, algas e cardos…”

Don Eladio Sobrino era um fuzileiro espanhol que ficou definitivamente no Chile quando seu navio o deixou em um porto austral. Vendeu Neruda em 1938, o lote com uma cabana de pedra. Depois, como escreveu o poeta em seu poema: “A casa crescia, como gente, como árvores…”

No inverno de 1943, com o arquiteto catalão German Rodríguez Arias, o poeta iniciou uma série de acréscimos que terminou em março de 1945. Naquela época não era fácil construir naquela zona: todos os materiais deveriam ser transportados por carretas puxadas por bois que deveriam cruzar o vau do rio Córdoba.

A primeira intervenção importante foi a torre sem telhado, com reminiscências da arquitetura mediterrânea da Europa. Mais tarde o poeta a cobriu para deixá-la como as torres das casas em Temuco, cidade na qual passou sua infância.

Neruda escreveu: “o oceano pacífico saiu do mapa. Não havia lugar para colocá-lo. Era tão grande, selvagem e azul que não podia ser contido em nenhum lugar. Por isso o deixaram na frente da minha janela”.

A casa de Isla Negra está inserida em uma paisagem litorânea. Ali o mar com suas ondas, ondas, praia e rochedos, atualizava a enorme impressão que o poeta teve quando, ainda criança, enfrentou o oceano pela primeira vez, em Puerto Saavedra. Mais tarde o mar converteu-se num dos cenários míticos da sua poesia.

As coleções mais importantes guardadas nesta casa, estão relacionadas com o mar: cabeças de figuras, retorta de velas, navios dentro de garrafas, conchas, dentes de cachalote. Há também espaços que comemoram sua amizade com alguns poetas da morte, cujos nomes ele fez gravar nas vigas do bar. Outras coleções mostradas aos visitantes, como garrafas de formas estranhas, máscaras, sapatos antigos e cachimbos.

Sergio Soza, arquiteto e amigo de Neruda, projetou as novas adições a partir de 1965: os arcos que unem os corpos da casa, e o recinto que alberga o quarto do cavalo e a Covacha. Este era um espaço onde o poeta se refugiava para escrever. Colocou sobre ela um telhado de zinco, para ouvir o canto da chuva e evocar, novamente, os sentimentos da casa que habitou na infância, no sul chuvoso do Chile.

Na casa de Isla Negra, Neruda escreveu uma parte importante de sua obra literária, ali reuniu a maioria de seus livros e também exerceu a hospitalidade, outro dos legados de sua infância sulista.

O poeta sempre celebrou as Festas Pátrias. Apesar da situação que o país vivia, após o golpe militar, no dia 18 de setembro de 1973 alguns amigos vieram para Isla Negra. Mas eles só trouxeram notícias alarmantes.

No dia seguinte, Neruda gravemente doente, foi levado de ambulância para a capital, de onde só retornaria a Isla Negra em dezembro de 1992, quando seus restos mortais foram transferidos para lá, ao lado dos restos mortais de sua esposa, Matilde Urrutia. Este funeral foi realizado com todas as honras que o poeta merecia, e com a ajuda das mais altas autoridades da nação. Assim se cumpriu o pedido que Neruda havia expressado cerca de cinquenta anos antes em seu poema “Disposiciones” do Canto geral:

“Companheiros, sepultem-me em Isla Negra, / em frente ao mar que conheço, a cada área enrugada de pedras / e às ondas que meus olhos perdidos / não voltarão a ver…”

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